Escrever para quem lê: compreenda o senso de comunidade.

Ainda que você diga que escreve apenas para tirar da sua alma, algum proveitoso sentimento ou angústia. Ainda que você diga que escreve para matar o tempo, se você deseja tornar suas histórias publicadas, então, há leitoras e leitores além de você, por trás da sua escrita.

Mesmo se a sua construção ficcional for uma ficção de fã, ou uma obra original, é preciso considerar a quem ela se destina. E isso, é primordial em todo texto. Cada texto destina-se a alguém, cada um, em sua função.

O romance é direcionado aos leitores ávidos por histórias longas, ora fictícias, ora não, e tem o desfecho de uma narrativa explorativa sobre um personagem sujeito, suas aventuras e enfrentamentos de problemas ou desafios.

A crônica, tem a característica de exprimir contextos da realidade travestidos de sentidos figurativos ou não, repletos de metáforas ou humores, ou ainda, descritivamente crua à realidade. É o narrar trivial do dia a dia, que ganha na mão do/da cronista, uma personificação do texto que pode enlaçar leitores ao personagem da crônica: fictício, ou próprio autor/autora.

O conto, já leva o leitor para o universo da imaginação. Geralmente curtos, envolvendo um personagem central, (diferente do romance que traz em si, as aventuras de um ou mais personagens), e em torno dele explorando uma narrativa. São leituras rápidas, desprendidas da realidade em sua maioria.

Dos três gêneros citados, há um perfil para quem vai ler, e às vezes os leitores são os mesmos, outrora, quem lê contos, não lê crônicas, e assim por diante. Independente do gênero, o mesmo leitor busca encontrar as características daquele texto e por elas, se comunicar com ele. Por isso, para quem escreve é preciso entender:

Para quem eu estou escrevendo? A que leitores eu preciso alcançar? Como eu pretendo trazê-los à minha obra?

E é quando o foco do ofício da escrita está neste leitor ou leitora traçados, que eu chamo de "escrever para quem lê". É o momento em que o autor ou autora, precisa se despir da escrita de si, pois agora, assume o lugar de leitor da própria obra. E sendo seu primeiro ou primeira leitor(a), irá esmiuçar as características de perfil de outros. Se emociona-se com a narrativa, observará em que pontos a história está comunicando a emoção pretendida, e se ela é convincente ao tipo de leitor que à obra se propõe.

Quando seu leitor ou leitora diz que não "se conectou" com a obra, não se "identificou" com o livro, das duas uma: ou o livro não foi pensado para ele e por isso está determinado a outro perfil, de forma esclarecida. Ou, o enredo tem falhas nos arcos de construção.




Não há problema algum se a obra não der "match" com o leitor ou leitora. Isso é normal, tá? O que estou apontando aqui, é a necessidade de compreender que, dentro do processo criativo da escrita, pode acontecer a você que escreve e cria o enredo influenciando interpretações sob ele, ter de se afastar do texto no lugar de autoria. Para conhecer as emoções que a narrativa traz. Para perceber a manipulação que interpela a quem a ler.

Mas, Ray, e se eu já conheço meu perfil de leitores e já estou atribuindo à minha escrita a quem quero alcançar?

Então, provavelmente, você já realizou esse processo de fazer escrita para quem a receber. Muito provavelmente, você já terá atribuído a comunicação com sua comunidade de leitores no livro.

Identificar a sua comunidade leitora, é saber o básico sobre ela: que idade tem, que gênero, de onde são, porque te leem, o que procuram nos livros, como chegaram até você, o que mais gostam na sua escrita... São informações que você pode alcançar se aproximando deles. Levantando pesquisas em suas redes sociais, perguntando diretamente.

O senso de comunidade também auxilia na divulgação posterior do livro. Para que você não anuncie um livro de terror entre leitores de Autoajuda que não irão se interessar pela obra.

Ademais, também é importante reconhecer a sua comunidade, porque muitas vezes, os autores e autoras não sabem categorizar o manuscrito, (e aí, seus leitores te ensinam porque o comportamento de leitura deles também implica a variação de gêneros literários). Não sabem que categoria literária a ela pertencem, e com isso, cometem erros dentro do texto e fora dele. 

Já aconteceu de você pegar um livro descrito pelo autor ou autora como "romance policial", e ler o livro todo para descobrir no final, que a única parte que se trata de policial, é uma cena de romance hot dentro de uma delegacia? Eis a propaganda errada. Mas aqui, estamos falando de anúncio pós publicação, já. Se voltarmos na etapa de escrita, este livro às vezes, na mente do/da autor era para ser outro, e ele/ela quem não soube identificar não só o gênero, como também, construiu uma história escrevendo para um tipo de leitora ou leitor, mas atraiu outro.

O "escrever para si" e o "escrever para a/o leitora/leitor", não são assim tão superficiais. Há muito que podemos prolongar e aprofundar do assunto. Eu ainda nem falei do "escrever para leitores no hype". Que é outra postura recorrente adotada por escritores Amazoninos. Mas, podemos falar disso depois, num outro momento se vocês quiserem!




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