Quando escrevi meu livro "No Coração da Fazenda", aprendi muito no processo de criar os personagens e seus dramas, e claro, emprestei algumas lições de vida já conhecidas por mim à narrativa também.
Nicole é a protagonista que representa um eco moral que muito ressoou em mim, na juventude: é que me ensinaram que mulheres precisam ser fortes. Que demonstrar fraqueza não é coisa bonita da vida, e por isso, devíamos encarar nossos problemas com uma dignidade orgulhosa de quem está "apanhando da vida, mas aguentando com orgulho".
Ora, depois de muito tempo, a gente descobre que esse pensamento alimenta uma porção de traumas. No livro, ao relatar a Nicole como uma mulher forte, uma mulher acostumada a se comportar de maneira dominante no seu meio de trabalho, na sua vida como um todo eu pensava muito em quebrar o vidrinho da super woman também, e abraçar a fragilidade como um sentimento natural e humano. Por isso, "ter medo não é ser covarde", foi uma das desconstruções que eu precisava fazer a Nic sentir. E assim, ser forte não significa a ausência do medo.
Todos estes sentimentos humanos precisavam pela minha personagem, e por nós mulheres, serem compreendidos como traços de uma humanidade natural. E desconstruir a ideia de que precisamos e devemos ser fortes em qualquer circunstância, engolindo a nossa fragilidade como se ela fosse vergonhosa. Isso tudo se relaciona muito a uma consolidação de sucesso que vem de uma ótica masculina. Nós mulheres fomos ensinadas que precisamos da virilidade do homem para encarar nossos processos mais complexos, para nos superar e sermos dignas dos aplausos de "uma super chefe", "uma super mãe", "uma super mulher". E eis a contradição: também não podemos ser viris demais, para não perder a delicadeza da feminilidade e não sobrepor-nos aos que é o lugar do homem na sociedade.
Ainda ontem, 25 de janeiro de 2024, no Jornal Nacional, veiculava-se a notícia de que ainda ganhamos bem menos do que eles em cargos de igual competências. E nada disso é novo, na verdade, é ladainha cansativa demais! Mas é a realidade. Não importa o quanto nós empenhamos um esforço próprio na auto superação, o patriarcado ainda nos induz a uma submissão para lá de diminuta.
Quando eu falo de compor em nossos livros dramas e personagens reais, é desse cruzamento de reflexões, fatos e sentimentos que estou dizendo. O post começou sobre uma citação do meu livro e tudo o que aprendemos com ela, e agora você pode notar que é muito mais do que "criar, planejar e desenvolver" os dramas de uma personagem.
Cabem tantos debates nessa pincelada de pensamentos, não é? Então, me conta aqui, o que você poderia opinar a respeito do que leu? Concorda comigo, discorda? E sobre a citação, ficou curiosa ou curioso para ler o livro?
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☕ A ESCRITORA
Escritora há mais de 18 anos, publica romances, contos, crônicas e fanfics. Professora de Educação Física, Orientadora de Escrita Criativa, Pesquisadora da História das Mulheres e Editora na Literattis Editorial, Ray empodera outras mulheres das suas narrativas literárias aos seus trabalhos com outras escritoras.
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