Infância que escrevi-me

Das memórias da minha infância que alimentaram a minha identidade literária, eu posso citar algumas, quais me lembro e sinto-me desejosa de voltar ao passado. O sítio dos tios do papai chamado "Recanto do Violeiro" é sem dúvida um dos lugares mais...

(...) Afetuosamente responsável pela minha produção artística com as palavras, uma vez que, meu primeiro romance nacional é coberto de muitos sentimentos da eu, menina, que perambulava divertida e criativa, entre os cajueiros.

Ah... Quem diria, que hoje, o sítio seria apenas memória. Eu me lembro dos banhos na lagoa, das pescas em família. De entrar no barco para acompanhar papai e o titio na pescaria, e com meu salva-vidas azul no corpo e falante que só (aliás, como dizia o tio "uma matraca"), eu precisava me segurar em silêncio para não espantar os peixes. Depois, maiorzinha, papai ensinou a pescaria, e como eu amava...


Lembro de sonhar em andar a cavalo, mas na primeira tentativa do tio em me colocar no Diamante, nosso cavalo de estimação que era um tanto temperamental, eu tive medo. Tio F. não era lá muito paciente, e por isso desistiu. Nunca realizei o sonho até então, pois nunca mais tive o incentivo e a confiança de alguém em me orientar na montaria. Veja só, uma coisa tão boba dessa...

Passear entre os pomares de caju e manga, ir à horta com titia, ora para regá-la, ora para "colher cebolinhas", eram momentos tão simplórios e que eu jamais imaginei um dia, serem lembranças gostosas com gosto de lágrimas. E a caça às tocas de caranguejeiras? Ah, a brincadeira de certo modo perigosa, que eu aprendi com o filho dos caseiros do sítio. Aliás, à tarde enquanto todos tiravam o cochilo da tarde no casarão, eu ia até a casa dos caseiros "tomar um cafézinho". Pense só que criança precoce.

— Ô de casa! Eu vim tomar um cafézinho e conversar!

E lá ficava eu, por horas a fio matracando, matracando, explorando o sítio com os filhos e filhas dos caseiros. Na maioria das vezes conhecendo brincadeiras novas de um campo que eu não mais vivia, agora, menina de cidade. Mas, às vezes, vinha lá umas brincadeiras que eu sabia bem e as reconhecia, de uma outra vez, de uma outra experiência na roça. E entre brincar com bonecas de pano, brinquedos de segunda mão, ou me balançar no balanço de pneu amarrado à mangueira. Entre entender coisas que só as pessoas do interior poderiam me mostrar, entre passar aqueles dias tranquilos... Eu jamais imaginaria a riqueza que me era dada.

Uma riqueza humana, criativa, afetiva.

Ah, que saudade desses tempos... Eu sequer sabia que viria a escrever um romance de vida em fazenda, onde tanto de minha história, onde tanto de minha vida eu imprimiria em palavras. Eu quase emprestei-me aos meus personagens, por inteira.

E não só essas são os fragmentos de uma infância que me escrevia. A vida na praia também foi repleta de bons costumes, bons momentos, bons sentimentos. E eis, outro sonho ainda não realizado: aprender a surfar.

É que o mar de Maricá era perigoso demais. É que o mar, era imenso, azul escuro, majestoso e intimidante demais, entretanto eu sempre senti um desejo de afundar-me nele adentro. Sorte, ou melhor, responsável cuidado de papai e mamãe que não deixavam-me sozinha momento algum. O mar me atraía, sempre atraiu.

Era de um misto de tristeza e encantamento, de mistério, segredo, de aventura e de aconchego. Ah... O mar de Maricá... A praia de Maricá... A vida de Maricá...

É de encher os olhos da salina mais íntima das minhas memórias, dos meus afagos. Eu sinto falta. Como dizia o poeta "uma felicidade que não sabíamos". E apesar do tempo nunca ser capaz de me levar de volta aos cenários da minha infância que me fizeram felizes, gratidão eu sinto por ter um subconsciente pretérito assim.

Lá no fundo da caixa de pandora da minha alma, estão essas memórias. Está essa infância que escrevi-me, e que hoje, escrevo por aí vestida de ficção.



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